A entrevista de José Belo é um bom texto. Demonstra alguém que vive, sente e adora a Briosa. Há pontos que ele fala, que creio que toda a gente concordará enquanto que em outros pontos nem tanto. E há um ou dois aspectos que ninguém (pelo menos eu) percebe o que ele quer dizer.
Mas vamos por partes:
Reflexões sobre a Académica
José Belo
Quem vive a Académica intensamente fica naturalmente preocupado com o que se está a passar e que tem sido mediatizado. O Eng. Simões já está na presidência da AAC/OAF há algum tempo e, infelizmente, não tem sabido fazer uma afirmação empolgante da sua liderança.
Verdade. Creio que o próprio Eng. José Eduardo Simões sentirá na pele o mesmo problema.
Têm faltado ideias, coesão académica, mobilização e, sobretudo, sentido de futuro, sobrando, pelo contrário, algumas situações polémicas, incómodas para uma Instituição centenária.
Eu não quero federar descontentamentos, mas há um sentimento que medra de que ultimamente a Académica começa a ser gerida por algumas pessoas com algum afastamento da sua cultura e dos seus princípios nucleares, numa subordinação cega à nova máquina da indústria do futebol. E nela há "filhos de muita mãe" e nós temos que saber estar do lado dos melhores, das boas práticas, da ética... o que parece não ter sido evidenciado na última Assembleia Geral, onde mais uma vez se aprovou o "edifício" sem cuidar das fundações.
Verdade. As Assembleias Gerais sempre me desgostaram porque nunca se debatem os problemas e sempre a rama. Mas alguma vez foi diferente no passado? Ou será diferente no futuro?
Não entrarei nunca na lavagem de roupa suja, onde me sinto desalinhado, mas permitam-me que faça uma rápida e pragmática incursão sobre a Académica e enfatizar que há sete pressupostos que têm de definir, na minha perspectiva, a política sócio-desportiva de uma Instituição como a nossa.
Óptimo. Gosto mais de discutir ideias do que fulanizar questões.
O primeiro, é seguramente a valorização da memória da Instituição. A Académica tem uma história e o seu percurso tem de respeitar aquilo que é o nosso ADN.
Não sei o que é o ADN da Académica. Acho que há muita gente que se arroga esse direito de saber o que é. Conheço uns quantos que jogam no Santa Cruz e afirmam que o ADN da Académica está ali. José Belo, podia dizer qual é, para si, o ADN. Aliás, seria giro ver uma campanha em que discutisse realmente qual o ADN que queremos para a nossa Briosa.
O segundo pressuposto, é naturalmente o enquadramento da Briosa na Liga profissional. Se calhar há uma grande pressão para nos empurrarem para o mercantilismo puro e duro. Mas sou daqueles que se recusam a aceitar que as coisas têm de ser assim, porque não podemos alienar a dimensão social onde cimentamos a nossa diferença. Daí que qualquer Direcção não pode dispensar as linhas de continuidade que fizeram da Académica uma Instituição de referência no panorama desportivo nacional.
Tenho dificuldade em opinar sobre o que não entendo. O enquadramento da Briosa na Liga Profissional não é garantido. É consequência de uma classificação que se consegue todos os anos. Dizem-me que no passado era mais difícil consegui-lo porque havia menos receita. Pelos vistos é indispensável estar no mercado a gastar dinheiro para se enquadrar na Liga.
Obviamente que não cauciono com isto os 60 jogadores que entraram na Briosa nos últimos anos. Mas isso qualquer pessoa, depois de ver os flops, consegue ajuizar. Mas também vejo jogadores, como Ezequias, a jogar na Liga dos Campeões e que em Coimbra eram considerados dispensáveis pelos adeptos.
O terceiro pressuposto, é a defesa intransigente dos interesses da Briosa, assentes nos valores decisivos que lhe dão a sua singular identidade e que, na minha perspectiva, têm de condicionar até o próprio enquadramento e desenvolvimento do programa de qualquer Direcção eleita pelos sócios.
Discurso redondo. Mais uma vez a questão de identidade. Como José Belo nunca diz qual é, para ele, a identidade que ele quer para a AAC/OAF, não posso opinar.
O quarto pressuposto é a situação económico-financeira, que infelizmente é agravada ano após ano, havendo vozes a dizer que a distância que vai até ao definhamento pode não ser grande...
Completamente de acordo. Apesar de ter apreciado bastante o facto de se ter registo um exercício com balanço positivo, a verdade é que serão precisos muitos mais para abater a dívida que existe.
O quinto, é o nosso sistema de afirmação no panorama profissional onde temos de competir. Infelizmente temos sido pouco hábeis a jogar o "xadrez" e a pôr as pedras no tabuleiro, andando sempre com o credo na boca apesar do nosso orçamento ser bem gordo. Parece, por isso, que tem sido pouco feliz o modelo de contratação, por atacado, que tem sido prática nos últimos anos. Ai, ai... onde pára a formação sustentada e sobretudo a criação de condições para os nossos excelentes técnicos poderem fazer omeletes?
Isto dito depois de estarmos 4 épocas seguidas na Primeira Divisão, soa a estranho. Ainda para mais na semana onde mais um atleta júnior da AAC é chamado à Selecção. Percebo o que quis dizer, não creio que tenha sido feliz no modo como o disse.
O sexto pressuposto, é a conjuntura desportiva, onde nos deixámos enredar alinhando nela através de maus exemplos que têm constituído matéria de opinião pública e de justiça, desperdiçando uma oportunidade de ouro para dizermos da nossa diferença.
De acordo.
O sétimo pressuposto, é a mobilização dos devotos e simpatizantes, alargando a quadrícula através de estratégia, objectivos e boas práticas bem definidas, criando efeitos multiplicadores e sinergias com vários "pólos" que têm connosco uma comum conexão sócio-desportiva. Ora a Académica hoje em dia, agrade-nos ou desagrade-nos, não tem perspectiva exaltante nem em dimensão social, nem desportiva, nem sócio- desportiva.
Ora esta constatação traz agarrado um quadro de risco e sobretudo uma contínua diluição da nossa identidade, que se traduz num "cinzentismo" que preocupa todos os que querem que a Académica não se esgote no curto prazo.
Se calhar ela está a padecer de uma patologia que alguns ainda não deram conta: ela tem um passado que é maior do que o seu presente...
Mas o que todos nós queremos é, com orgulho do que está para trás, falar de futuro, com dignidade, com modernidade, com esperança, com sentido académico..., sabendo pôr a render, enquanto ainda é possível, o valor que para a AAC/OAF resulta da sua moral, da sua ética e da sua diferença. Para isso contam sempre com os Veteranos que estão prontos a colaborar, mas sem
nunca alijarem a sua responsabilidade na defesa dos valores e princípios que marcam a Académica.
*Presidente do Núcleo de Veteranos da Académica
In "Campeão das Províncias"
Não poderia estar mais de acordo. Mas infelizmente as feridas parecem ser fundas de mais para se resolverem rapidamente. Acho que foram dados passos importantes por Campos Coroa e depois por José Eduardo Simões, mas sinceramente, parecem-me passos muito pequenos para o que era preciso realmente.
Nunca percebi porque é que a Secção de Futebol da AAC não é um satélite da AAC/OAF. Parecia-me natural e salutar. Conheço as feridas do passado e só muito recentemente (1984) se deu o primeiro passo para reaproximação. Provavelmente será preciso uma mudança de geração. Mas sem isso feito, ficará sempre a faltar um elo do tal ADN.
Deve andar à procura de tacho!!!
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