(memórias do Atlético – 0 Académica – 1)
Fui à bola ver a taça…
Que desgraça!
Há muito que lá não ia.
Nem sabia
– Que eu em guerras não me meto –
Que o pobre dum guarda-chuva
Agora é uma arma branca
Apesar do pano preto!
“Não pode entrar, é de lei!”
“Ora porra, e eu cá sei?”
– Respondi eu para o bronco –
“Um chuço que é cá um ronco…
Nem é bem pelo dinheiro
É mais pela estimação.
Foi oferta do barbeiro
Por lhe comprar a loção
Prà caspa um ano inteiro.”
“Que não”, não podia ser.
Ou o levava prò carro
– E o jogo quase a arrancar! –
Ou o punha ali de rojo
Num monte que era um nojo
Pra mais tarde levantar.
“Mas desde já o aviso
Qu’ eu não me responsabilizo.”
Lá deixei o artefacto.
Fui escada acima prò campo
Assentei o cu no banco
E fiquei estupefacto:
Que a malta vinha de preto
Mas c’ uns soquetes branquinhos
A saírem dos tamancos
Grandes ou pequenininhos
Não sei se coxos se mancos!
Pareciam vacas malhadas
De pelo preto no lombo
E patas esbranquiçadas!
E até os cascos pintados
De encarnado e outras cores!
Vamos lá a ver senhores
Isto é que é o equipamento
Da equipa dos doutores?
Ou é pata de jumento?
E o sô árbitro!
Que gozo!
De azul bebé fardado
Cara de matarruano
Se fosse há 40 anos
Diria não ter capado
Para a nossa inteligência.
Agora nem digo nada
Ao olhar para a manada.
Paciência...
Pus-me na primeira fila
Ao nível dos treinadores.
E agora, meus senhores
Já sei porque é que os macacos
Quando no flash interviú
– Ali, no fio da navalha –
Lhes perguntam o que viram
Dizem sempre o que lhes calha.
Que onde estão não se vê nada!
Ele é tudo fogo raso!
Eu sei lá se era na área
Ou se a bola atravessou
A linha de cabeceira
Ou se a gaja esteve fora
Ou dentro da capoeira.
Dali, verdade ou mentira,
Cada qual baila o seu vira.
Começa o jogo e a malta
Da nossa bancada grita:
“A-cadé-mi-ca! A-cadé-mi-ca!”
Quando atrás, que confusão,
Sai em coro um barulhão:
“A-telé-ti-co! A-telé-tico!”
Aquilo era tudo ao monte
Tudo gritava pró mesmo
Era tudo boa gente
Só estudantes e operários
– Como “A Bola” desse dia
Não deixava de lembrar –
Só o cabrão da portaria
Havia de chatear.
Felizmente, ao intervalo,
– Depois de ir a verter águas
E dar uma espreitadela
Ao monte dos guarda-chuvas,
Para acalmar minhas mágoas –
Arrimei-me mais pra cima
Prò pé da malta entendida:
O Rogério e o
Que me deram a equipa:
“Este ali é o Geano
Mas aquele é o Joeano.”
“Este aqui mesmo é o Litos
Que aquele ali é o Lino.”
Mas que grande confusão
Não vi Manéis nem Antónios
– Que demónios –
É mesmo assim, pois então!
É futebol à maneira
Profissional,
Sempre à beira
De mudar no fim do ano
Meia equipa
Que outra meia
Já mudou pelo Inverno
Mas que inferno!
E a Mancha a bater no bombo
Sem graça nas cantorias.
E a malta a falhar nos passes
Sem gozo nem fantasias.
E o Atlético a crescer
E a malta a adormecer.
E a chuva de molha patos
A entranhar-se nos sapatos.
E a equipa sem ter pressa
E eu já com dor de cabeça…
Chegamos ao fim do tempo
Vamos pra prolongamento
É só passar os descontos.
Quando o Pitbull arranca
Grita o Rogério e o Mesquita:
“Passa a bola meu sacana!”
“Passa! Passa! cruza agora!”
E o gajo, que nem os ouve
Não passa a ponta dum corno
Acelera, chuta a bola
E a malta já grita “Golo!”
“É golo e já está na hora”!
Digo adeus aos dois amigos
Que com seus gritos possantes
Assim ficaram da estória
Desta tão grande vitória.
E saio à frente de todos
Não vá que na confusão
Me levem o guarda-chuva
Qu’ inda lá estará no chão.
Olho do cimo da escada
E que vejo eu logo ali:
O rasto duma manada!
Foi carga de javali!
Só restam cabos partidos
Varetas encarquilhadas
E um trapo meio franjado
Com motivos em xadrez
Nem sei se era um guarda-chuva
Se o kilt dum escocês.
Só estudantes e operários.
Boa gente, já se vê.
Fui à bola ver a taça…
Que desgraça!
16/02/2007
-------------------------------------
P.S. Recebi esta pérola literária que acho merecer ser lida pelo maior número de pessoas para que possam desfrutar do imenso prazer que me deu lê-la. Ao seu autor, que gentilmente me permitiu publicá-la o meu muito, muito obrigado. Pela alegria que me proporcionou ao ler, e por me ter permitido publicar.
Sem comentários:
Enviar um comentário