Sempre tive grande admiração pelos jornalistas. Deve ser difícil ganhar a vida a escrever, sabendo que se pode ser despedido caso se critique quem não se deve criticar. Dai a minha admiração e respeito por todos aqueles que conseguem manter a coluna direita.
Claro que este sentimento de rectidão não é extensível aos jornais desportivos, que demitem-se da sua função - investigar e denunciar o que está errado - com medo de, pasme-se, estragar o espectáculo futebol que alimenta o seu jornal. A ser verdade isto, teríamos que os jornais de âmbito geral não poderiam falar de crimes, nem expor criminosos porque as pessoas deixariam de os comprar.
O jornalismo desportivo em Portugal, emprateleira-se assim, no canto das revistas cor-de-rosa, onde só fala do que deixa as pessoas contentes, e demite-se da sua verdadeira função - dar notícias sobre o fenómeno desportivo. Não são jornais desportivos, são revistas desportivas.
Se quisermos saber o que se passa, temos de ler, por exemplo o Correio da Manhã, onde aparecem publicado parte do relatório que a equipa mista da PJ produziu. E o que lá está escrito, deixa-me verdadeiramente perplexo (os destaques são meus):
"Havendo a capacidade de se irem introduzindo no interior do Conselho de Arbitragem, ao longo do tempo, dirigentes, árbitros, observadores e assessores, que se apresentem como permeáveis a desígnios fraudulentos da verdade desportiva e que cedam às influências de determinados clubes [...] estamos perante um sistema vocacionado efectivamente para a alteração da verdade desportiva", dizem os investigadores no relatório final da equipa de Morgado. Aí são explicadas as diversas formas do processo que começa por premiar ou promover os árbitros em função dos favores prestados nas suas arbitragens, bem como castigar ou despromover aqueles que não se mostram colaborantes. E segue-se a promoção dos observadores que garantiram boas notas aos árbitros que favoreceram determinados clubes e a despromoção dos que não o fizeram.
“A viciação das nomeações e classificações insere-se numa lógica mais global de desvirtuamento da verdade desportiva, tendo desempenhado um papel crucial na manutenção e perpetuação desse ‘status quo’, enquanto alimentador e potenciador do sistema falseador”
Noutro lado, no mesmo jornal:
PJ FAZ LISTA DE ÁRBITROS AMIGOS E INIMIGOS
ÉPOCA 2003/2004
ÁRBITROS AJUDADOS A FICAR NOS PRIMEIROS LUGARES
Carlos Xistra: Árbitro de Castelo Branco, falou com Pinto de Sousa sobre um observador que o classificou com 8,5. Foi constituído arguido.
Paulo Paraty: Árbitro do Porto, estava indiciado por escolher observadores. Valentim e Pinto de Sousa trocaram impressões para melhorar a sua classificação.
Martins dos Santos: Abandonou a arbitragem nessa época por limite de idade. Está acusado no processo Marítimo-Nacional e o seu nome surge de forma amiúde no Apito Dourado. A PJ acreditava que sabia o nome dos observadores com alguma antecedência.
Paulo Baptista: É de Portalegre e foi acusado no caso Naval-Chaves. Não foi pronunciado e negou também ter sido pressionado por Valentim Loureiro.
Pedro Proença: Internacional, o árbitro foi considrado suspeito depois de uma conversa indirecta que indiciava que saberia antecipadamente o nome de um observador.
OUTROS ÁRBITROS AJUDADOS
André Gralha: Este árbitro era estreante da 1.ª categoria naquela época, mas acabou por descer à 2.ª. A PJ acredita que mesmo assim foi bastante ajudado.
Jacinto Paixão: Abandonou a arbitragem na sequência do processo. É acusado de beneficiar o FC Porto e o Boavista e está envolvido no caso da ‘fruta’.
Nélio Mendonça: É da Madeira e também só esteve um ano na 1.ª categoria. Já não faz parte dos quadros de árbitros da FPF, depois de ter abandonado a carreira.
ÁRBITROS AJUDADOS A MANTEREM-SE NA CATEGORIA
Augusto Duarte: Foi acusado de corrupção em dois processos e em ambos o MP defende que pretendia beneficiar o FC Porto. Ao longo dos autos, as autoridades referem que era protegido pelo pai, vice-presidente da arbitragem da FPF.
João Vilas Boas: Apitou o jogo da 2.ª Liga entre o Sp. Covilhã e o Marco e outro da 1.ª entre o Boavista e o Moreirense. O MP acabou por arquivar os casos.
Lucílio Baptista: Nesse ano foi classificado em 12.º lugar. A PJ defendia que lhe foi aumentada a nota num teste escrito. O árbitro negava-o.
Mário Mendes: Árbitro de Coimbra, esteve algumas épocas na 1.ª categoria. Foi constituído arguido pela PJ, mas o processo acabou arquivado.
Nuno Almeida: O seu nome apareceu envolvido por suspeitas de viciação do resultado do jogo FC Porto-Maia a contar para a Taça de Portugal.
Paulo Pereira: Árbitro de Viana do Castelo, permanece na 1.ª categoria e também não foi acusado. Não se livrou das suspeições.
ÁRBITROS AJUDADOS A SUBIR À 1ª CATEGORIA
António Resende: Foi acusado no processo da arbitragem de um crime de falsificação de documentos. Está actualmente na 2.ª categoria.
Artur Soares Dias: Filho do antigo árbitro Manuel Soares Dias, actualmente observador, é apontado como candidato a árbitro internacional.
João Henriques: Só esteve um ano na 1.ª categoria e desceu na época 2004/2005. Integra actualmente a 2.ª categoria e foi acusado de falsificação de documentos.
ÁRBITROS IMPEDIDOS DE SUBIR À 1ª CATEGORIA
Cosme Machado: Árbitro de Braga, subiu esta época à 1.ª categoria. Embora a PJ garantisse que havia sido prejudicado, foi constituído arguido.
Rui Silva: Árbitro de Vila Real, também estava no processo originário. Actualmente é árbitro da 1.ª categoria e não foi acusado em nenhum dos casos.
ÁRBITROS AJUDADOS A MANTEREM-SE NA 2ª CATEGORIA
Sérgio Pereira: Foi acusado e não pronunciado no processo de Gondomar. Conhecido pelos seus manuais de arbitragem, abandonou a carreira.
ÁRBITROS OBRIGADOS A DESCER À 3ª CATEGORIA
Aníbal Gonçalves: O árbitro foi acusado mas não pronunciado no processo original que ainda corre em Gondomar. Encontra-se ainda nos escalões secundários, mas o juiz considerou insuficiente a prova que foi recolhida pela PJ contra si.
José Figueiredo: Acredita a Polícia Judiciária que foi prejudicado na classificação dessa época, sendo empurrado para descer de categoria.
Joaquim Cunha: Não fazia parte da lista de árbitros que deviam ser salvos e na lista final acabou por ficar nos últimos lugares da classificação.
José Coelho: A escolha de quem devia descer obrigava a acertos com os concelhos distritais para evitar zangas. José Coelho foi preterido.
ÉPOCA 2002/2003
ÁRBITROS AJUDADOS A SUBIR À 1ª CATEGORIA
João Roque: Árbitro de Portalegre, já passou pela primeira categoria sem se conseguir fixar entre os melhores, apesar de ser classificado como um árbitro promissor. Está neste momento na 2.ª categoria e foi constituído arguido pela PJ. Não foi acusado no caso da arbitragem.
António Nogueira: A escolha dos observadores e a alteração das classificações ajudou-o a manter-se na 2.ª categoria, evitando que ficasse nos lugares de acesso à despromoção.
João Roque: Árbitro de Portalegre, já passou pela primeira categoria sem se conseguir fixar entre os melhores, apesar de ser classificado como um árbitro promissor. Está neste momento na 2.ª categoria e foi constituído arguido pela PJ. Não foi acusado no caso da arbitragem.
António Nogueira: A escolha dos observadores e a alteração das classificações ajudou-o a manter-se na 2.ª categoria, evitando que ficasse nos lugares de acesso à despromoção.
Carlos Amado: O pedido para que fosse “ajudado” partiu de Isabel Damasceno, presidente da Câmara de Leiria, que também foi constituída arguida.
João Roque: Árbitro de Portalegre, já passou pela primeira categoria sem se conseguir fixar entre os melhores, apesar de ser classificado como um árbitro promissor. Está neste momento na 2.ª categoria e foi constituído arguido pela PJ. Não foi acusado no caso da arbitragem.
ÁRBITROS AJUDADOS A FICAR NA 2ª CATEGORIA
António Nogueira: A escolha dos observadores e a alteração das classificações ajudou-o a manter-se na 2.ª categoria, evitando que ficasse nos lugares de acesso à despromoção.
Carlos Amado: O pedido para que fosse “ajudado” partiu de Isabel Damasceno, presidente da Câmara de Leiria, que também foi constituída arguida.
ÁRBITROS OBRIGADOS A DESCER DE CATEGORIA
Manuel Fernandes Costa: Nas milhares de folhas do processo, é evidente que as classificações eram alteradas. Os dirigentes assumiam-no e Manuel Fernandes da Costa, que em 2002 apitava na 2.ª categoria, foi forçado a descer.
Luís Silva: Ficou nos últimos classificados na época 2002/2003. Faz parte dos árbitros que Pinto de Sousa e o informático Paulo Torrão decidiriam que seria despromovido, em total desrespeito pelas notas obtidas ao longo da época.
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