O balanço do primeiro ano de gestão do Estádio Cidade de Coimbra é globalmente positivo, diz o presidente do conselho de administração da TBZ.
Mas o gestor quer mais. Mais pessoas no estádio, mais eventos... e mais apoio por parte dos dirigentes da Académica. É que neste negócio, o sucesso trará dividendos para a empresa e para o clube. Equacionada está, igualmente, a possibilidade da TBZ entrar em outras áreas de negócio na cidade.
DIÁRIO AS BEIRAS - Por que razão demorou tanto tempo a ser assinado o acordo com a Académica?
João Barroqueiro - Por razões alheias à TBZ, inerentes à realidade de um clube de futebol.
Mas em alguma altura temeu que este não fosse formalizado?
Não. Estava claro que tínhamos um acordo desde o início e que ia ser honrado.
Falou com Carlos Encarnação durante esse período?
Não trocámos impressões acerca disso.
Se a Académica tem descido à Liga de Honra, o contrato seria assinado à mesma?
Com certeza. O contrato prevê um apoio à Académica caso desça de divisão. É óbvio que do ponto de vista do retorno torna–se muito fraco.
As críticas que o presidente José Eduardo Simões fez sobre a gestão do estádio afectaram, de algum modo, a relação entre as duas instituições?
Entre as instituições não diria. No entanto, há aqui uma certa complexidade no relacionamento. De resto é público o feitio pouco linear do presidente da Académica.
Então, como foi possível assinar o contrato? O presidente da Académica disse na última assembleia geral que faltava uma garantia bancária...
O contrato tem uma série de obrigações que a TBZ cumpriu escrupulosamente ao longo de todo o período. Aliás, em três partes desse período até ultrapassoulargamente aquilo que lhe era exigido, na medida em que fez adiantamentos que não eram uma obrigação contratual. Portanto, estão regularizadas todas as situações dentro daquilo que o contrato prevê. Mesmo a nível de timings para a apresentação de garantias está tudo nos prazos definidos pelo contrato. É um contrato complexo, a 10 anos.
Que balanço faz deste primeiro ano de gestão de um recinto desportivo, uma novidade para a TBZ?
Faço um balanço bastante positivo. E positivo a três níveis. No futebol, tivemos uma audiência média de 10 mil espectadores, aumentámos em cerca de 20 por cento, fizemos cerca de 1.700 novos sócios e temos cerca de 73 por cento dos sócios com bilhetes de época. Temos ainda um grau de satisfação único na gestão de estádios em Portugal, dado que 85,2 por cento dos nossos clientes, ou seja, os sócios e simpatizantes da Académica, estão satisfeitos ou muito satisfeitos com a gestão da TBZ. Quando comparamos a gestão anterior, 79,5 por cento dos clientes consideram que a gestão da TBZ é melhor ou muito melhor que a anterior. Por isso, em relação ao negócio do futebol, foi um sucesso. Do ponto de vista do imobiliário, o estádio tem cerca de 5.000 metros quadrados locáveis e já estão todos colocados. Quanto aos eventos, também correu muito bem, muito mais do que o normal para estádios com estas características.
Falou num aumento da audiência média de espectadores. Há mês e meio o presidente da Académica dizia que houve menos gente. Como é possível esta diferença nas análises?
Explico isso em detalhe. Ponto um: este estádio tem um sistema automático de torniquetes que mede as entradas, portanto, tem um nível de fiabilidade altíssima. Ponto dois: é uma entidade externa, o International Football Estatistics, que nos confirma isso. Ponto três e muito relevante: a TBZ paga à Académica a parte variável dos valores que comunica. Não faria sentido comunicarmos valores mais altos que a realidade para depois termos obrigações mais pesadas do que aquelas que são devidas.
Face ao investimento, quando prevê que a TBZ comece a ter lucro com a gestão do estádio?
Este contrato tem três componentes muito fortes: futebol, imobiliário e eventos. E constitui um investimento entre os 40 e os 50 milhões de euros da TBZ em Coimbra ao longo da duração do contrato. No ano passado, a TBZ investiu na economia da cidade, de forma directa, cerca de quatro milhões de euros, dos quais uma parte substancial paga à Académica e o restante em serviços que compramos a empresas locais. De resto, além deste corpo de investimento que fazemos ao longo deste contrato, queremos expandir a nossa actividade em Coimbra, para negócios que nada têm a ver com a gestão do estádio. Dentro do negócio temos uma área que é claramente deficitária, que é o futebol. Na mecânica deste contrato, o futebol tem um prejuízo de cerca de um milhão de euros. Se a performance da Académica se mantiver ao nível do que foram os últimos três anos, o futebol será sempre deficitário. Mas não entendemos que este estádio tenha sido concebido para ser utilizado 20 tardes por ano em 365 dias. Há que criar âncoras permanentes, regulares e móveis. Nessa medida, a nossa exploração do imobiliário é claramente positiva, a dos eventos também e procuramos que aquilo que ganhamos nestas áreas seja mais do que aquilo que temos que subsidiar para o negócio do futebol. Mas desejamos e fazemos votos para que a Académica jogue ao nível da sua grande história e que tenha óptimos resultados. No ano passado, quase durante três quartos da época, a Académica esteve entre o último e antepenúltimo lugar. Foi com a vinda do professor Nelo Vingada, que consideramos a grande figura da última época, que se conseguiu uma reviravolta fantástica.
Académica deve dar mais apoio
O que já estão a projectar para a nova época em termos de futebol: novos produtos, angariação de mais sócios...?
Uma das arestas a limar em relação ao ano passado é o apoio que certos dirigentes da Académica deram a este contrato. Porque mais do que um elemento da direcção acabou por não fazer aquilo que poderia ter feito. Mas deixo uma palavra de apreço para outros elementos da direcção, como o professor Cassiano Santos, o dr. João Paulo Fernandes e o dr. António Preto.
Mas já notamos uma diferença. O dr. João Paulo Fernandes está bastante presente e isso é um sinal positivo do apoio da direcção a este contrato, o que influi directamente no negócio do futebol. Sem um apoio bastante activo do clube, é impossível. Somos meros gestores do estádio.
Mas a Académica vive do futebol. É possível sensibilizá–la para as outras vertentes?
Para nós, é suficiente que apenas apoie a vertente do futebol deste contrato. Das outras temos bastante mais conhecimento.
Quantos novos sócios pretendem angariar para a nova época?
Iremos ultrapassar o valor anterior. Havendo vontade da direcção da Académica, e creio que existe, em acompanhar esta angariação de novos sócios, pode ultrapassar–se largamente esse valor. Desde ontem arrancou uma campanha sem precedentes de venda de bilhetes de época. Aqui toda a gente é da Académica, portanto, venham ao estádio. Esta cidade é da Académica, queremos que em Coimbra se respire Académica.
Falou em 10 mil espectadores de audiência média. Querem aumentar para quanto?
Um aumento de 20 por cento já seria positivo, mas sabemos que a qualidade dos nossos serviços é apenas parte da motivação. É natural que os sócios adiram quando a equipa joga melhor.
Uma Académica a lutar pela Europa será uma importante alavanca para minorar o prejuízo?
Uma boa performance é o que mais desejamos. Por um lado porque é um clube simpático, com uma história única e valores muito próprios. Note que é o clube do coração de todos os portugueses...
Foi esse o principal motivo que trouxe a TBZ até Coimbra?
Acreditamos na Académica. Quando nos convidaram - a primeira conversa até foi com o dr. João Moreno, pessoa de quem tenho as melhores memórias e uma grande admiração -, dissemos que faria sentido. Tem uma grande marca, sócios que a seguem. Na altura contratámos uma grande consultora, que nos fez um estudo, e fazia sentido do ponto de vista da rentabilidade. A TBZ tem muitas
concessões e normalmente a longo prazo. Tem que haver uma sustentabilidade do negócio. Muitas vezes não basta querer.
Mas foi um risco, uma vez que nunca tinham gerido um estádio...
Recebemos convites de quatro estádios antes do Euro’2004. Entendemos que devíamos começar pela Académica. Não há dúvida que faz falta uma entidade profissional na gestão de estádios. Agora, a TBZ tinha que entrar por um. É natural que no final desta época, possamos aceitar os convites de mais dois ou três.
Pensam entrar noutras áreas de negócio, em Coimbra?
Estamos a estudar possibilidades de investimento.
O futebol foi a porta que vos abriu a cidade...
E fomos muito bem recebidos. Quer pelas empresas, pelos cidadãos, pelos sócios da Académica. Estamos muito gratos por isso.
Que áreas de negócios poderão interessar à TBZ?
Temos investimentos na distribuição, no retalho, na gestão de diversos activos e imobiliário. E para nós faz todo o sentido.
Em matéria de eventos, já está algo programado?
Temos dois objectivos muito bem definidos. Em relação aos eventos, queremos que seja, a médio prazo, o estádio com mais eventos de Portugal. No ano passado, tivemos duas feiras de outlet, com quase 20 mil pessoas, eventos de grandes empresas como a Portugal Telecom, o Ministério de Obras Públicas através de uma sociedade, empresas farmacêuticas, festas, um baile de gala.
Por ter corrido bem, este ano temos mais solicitações. Do ponto de vista do futebol, pretendemos que seja o estádio, extra três grandes, com maior audiência média.
Têm algum concerto previsto para o estádio?
Existem um ou dois por ano em Portugal. Temos que ser realistas e saber da dificuldade de os trazer para cá. Foi fantástico conseguir os Rolling Stones, foi uma aposta da cidade. Trouxe aqui a equipa da empresa responsável pelas tornês dos Rolling Stones e dos U2 e debatemos amplamente as potencialidades deste estádio. Não queremos repetir o que se vê noutros estádios. O que aqui acontece tem que ser um sucesso. Agora, do ponto de vista de eventos de menor porte, este estádio tem todo o potencial.
Equacionam a “venda” de bancadas do estádio? O Benfica já tem a Bancada Sapo, a Bancada Coca–Cola...
Hoje, nos Estados Unidos, é difícil encontrar um estádio, arena ou teatro que não tenha naming rights. Não temos dúvidas que o futuro, a nível mundial, é esse. Em Portugal está a começar e o Benfica foi pioneiro nisso.
Por isso, é natural que venha a haver.
Já este ano?
Como o Benfica tem, é difícil. Viemos praticamente do zero. Queremos trazer grandes interlocutores. Mas este ano, a nível de parceiros institucionais, já vai haver uma grande diferença.
sexta-feira, julho 22, 2005
Entrevista a ler com toda a atenção
Muito se especula de onde vem o dinheiro da AAC-OAF, do acordo com a TBZ que demorou muito tempo a ser criado. Daí a oportunidade deste bela entrevista do diário "As Beiras" que vou colocar de seguida. Um pouco extensa, mas vale a pena.
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O que há para ler?
ResponderEliminarSó uma simples constatação de factos.
Aliás de termos um presidente com, e passo a citar "feitio pouco linear"... Também nos apercebemos que a verdade tem dois lados... agora quem é que está a enganar????
para mim há duas questões importantes a ler:
ResponderEliminar1. a afirmação que destaca... é surpreendente e sintómatica de um relativo mal estar
2. a importância que para a TBZ tem que a AAC fique na primeira divisão.