quinta-feira, maio 28, 2009

Domingos em discurso directo

Muito boa a entrevista que Ricardo Sousa (Diário de Coimbra) fez a Domingos Paciência. E num discurso desassombrado, o ainda treinador da Briosa responde de maneira exemplar às principais questões que lhe são colocadas, não se esquivando de falar do que aconteceu em Setúbal e dos motivos porque não continua. A ler:

DIÁRIO DE COIMBRA (DC) Que balanço faz da temporada?
DOMINGOS PACIÊNCIA (DP)
O balanço é muito positivo. E digo muito se analisarmos bem e formos realistas e coerentes o que foi este ano comparado com 2007/2008. Esta época a equipa sofreu algumas alterações e tivemos um plantel com menos soluções do que o ano passado. Quando digo que o plantel era mais curto é porque quatro jogadores vinham do clube satélite. E tirando esses quatro, mais os três guarda-redes, num plantel de 25 elementos, restam-nos 18 jogadores com mais experiência. Acabámos por dar uma boa resposta, apesar de não ter sido fácil. Tivemos momentos muito complicados e vivemos períodos com algum sacrifício, porque semana após semana a não conseguir pontuar e a ganhar fora de casa, teve de ser feito um trabalho no sentido de recuperar psicologicamente os jogadores. E não foi fácil, até porque só a partir de uma determinada altura começámos a ter bons resultados fora de casa. Ninguém pensava que chegássemos ao 7.º lugar, ainda por cima não nos podemos esquecer o que era a realidade da Académica, com um baixo orçamento.

DC O momento decisivo da temporada terá sido a semana após Setúbal?
DP
Sim. Foi um jogo importante e o do Marítimo também. Não ganhámos em Setúbal, mas também não jogámos mal. Se há vitórias morais, essa se calhar é uma delas, porque saímos fortalecidos. Esse jogo isolou o grupo e tornou-nos mais fortes.

DC Foram injustas as críticas após o jogo em Setúbal?
DP
Muito injustas. A equipa não merecia passar por aquilo que passou. Infelizmente sofremos dois golos idênticos e de bola parada, coisa que nunca tinha acontecido até aquela altura. Por um lado foi bom, porque senti que ganhei um grupo a partir desse jogo.

DC Depois desse desafio, faltavam 36 pontos por disputar e a Académica garantiu 21. Essa foi a melhor resposta que o grupo podia dar?
DP
Foi, porque, a partir daí já não nos puderam apontar nada. A equipa acabou por aliar os jogos bem conseguidos com os resultados. As coisas mudaram.

DC O que guarda destes dois anos?
DP
Guardo um carinho por parte de muitas pessoas e um clube especial. Outros treinadores diziam que a Académica era um clube pelo qual valia a pena passar e senti isso mesmo. Todos os treinadores devem passar por este clube. É, de facto, diferente.

DC Apesar de ter atingido os objectivos nas duas épocas, não foram dois anos fáceis?
DP
Não. Para se conseguir ganhar tem que se estar bem preparado e forte, porque a instabilidade que se possa viver – não falo só da Académica, mas também das outras equipas – afecta uma equipa de futebol. A estabilidade, o querer e o empenho de muita gente é que fazem com que as vitórias aconteçam. Isso está provado e só assim existem campeões. Quando as coisas não acontecem há sempre razões para isso.

DC Sente que também cresceu como homem?
DP
Sim. Estes dois anos foram muito importantes. Cresci muito, aprendi muita coisa, conheci pessoas novas, formas de pensar diferentes e isso é sempre positivo. Também cometi erros, como toda a gente comete. São erros que, de certeza absoluta, não os cometo mais. Há uns tempos disse a uma pessoa com responsabilidade que “a mim o dia de amanhã não me assusta”. Não me assusta, porque quem nasceu pobre e se realmente consegue ganhar e consegue procurar uma vida cada vez melhor para si e para os seus não tem que ter receio. Felizmente as coisas têm me corrido bem. Se tivesse medo, já tinha desistido há muito tempo.

DC Algumas vezes se sentiu um homem só durante estes dois anos?
DP
Sim. Há momentos em que sentimos que estamos sós, mas também é nesses momentos em que penso de outra forma. Se estou só é porque esse desafio é só para mim.

DC E pensou em desistir?
DP
Nunca. A pior coisa que me podem dar como conselho é para desistir. Eu nem sempre ouço o que as pessoas dizem, muito menos quando é para denegrir. Desistir não faz parte do meu vocabulário.

DC Por que razão não continua?
DP
Quem conhece a Académica e quem está há muitos anos na Académica poderá fazer uma leitura diferente das razões que me levaram a não continuar. A minha decisão é, acima de tudo, apoiada num bom trabalho feito nestes dois anos. É um ciclo que termina. Faz parte do meu dia-a-dia ser cada vez mais ambicioso. Se saio da Académica é porque quero ir abraçar outro projecto com motivação e com projecção em termos de futuro. Quem conhece a Académica sabe que, por vezes, as coisas não são fáceis. Mas não são fáceis na Académica nem noutros lados. A minha ideia é mesmo querer outro projecto, porque para o ano cada vez vai ser mais difícil, porque as condições financeiras no futebol são cada vez mais complicadas.

DC Diz que ainda não tem propostas de outro clube. Não ficará arrependido de não ficar na Académica, caso comece a época desempregado?
DP
De maneira nenhuma. Não me arrependerei se ficar no desemprego. É uma situação para a qual estou preparado se vier a acontecer. Tanto eu como a minha família. Há outras coisas para fazer e em que nos podemos valorizar. Durante o período que estive na Académica aproveitei para fazer um curso interessante de “coaching, liderança e gestão de equipas”. Se ficar sem trabalhar, faço outro tipo de trabalho. Parado não irei ficar.

DC O Domingos treinador é melhor que o Domingos jogador?
DP
  O Domingos jogador é muito melhor que o Domingos treinador. Agora há uma coisa muito importante: o Domingos treinador quer ser melhor que o Domingos jogador.

DC De um momento para o outro a Académica deixou de ter jogadores do FC Porto. Contava com um cenário que depois não se confirmou?
DP
Em Março de 2008 houve uma reunião e se eu dissesse a equipa que estava prevista para a época 2008/2009, então a Académica teria uma super-equipa. E foi nesse sentido que renovei pela Académica. Com a perspectiva de ter determinados jogadores com muita qualidade numa Académica muito forte. Isso não aconteceu. Os motivos não me perguntem a mim.

DC Sentiu-se enganado?
DP
Não. Por vezes há determinados projectos que não acontecem e de um momento para o outro um treinador fica com uma equipa em mãos e só tem de a trabalhar ao máximo.

DC Essa equipa contemplava jogadores do FC Porto?
DP
Nesse projecto haveria o empréstimo de jogadores de outros clubes, não só do FC Porto.

DC Ficou magoado com Markus Berger?
DP
De maneira nenhuma. O Berger é um excelente profissional. Quase todos os dias chegava à mesma hora que eu e eu até gosto de ser o primeiro a chegar. Apenas fez uma leitura precipitada e não conseguiu entender o jogo em Paços de Ferreira. O Berger jogou para bloquear o lado esquerdo do Paços de Ferreira, que é o lado mais forte, mas, aos 20 minutos, o Cristiano e o Jorginho já não estavam em campo e não havia necessidade de manter o Berger.

DC Que jogadores o surpreenderam?
DP É injusto estar a referir nomes. De qualquer modo, o Boris Peskovic, o Luiz Nunes e o Sougou fizeram uma boa época. O Lito esteve ao nível que nos habituou. O Piloto cresceu muito como jogador, o Orlando também cresceu muito, bem como o Pedrinho. Julgo que saíram todos valorizados.

1 comentário:

  1. Vai ficar desempregado porque o Jesus não sai.


    LOOOOOL

    ResponderEliminar